quarta-feira, 23 de setembro de 2009

PROJETO SOCIAL NO TURANO TRAZ ESPERANÇA AOS JOVENS

Crianças da comunidade do Turano acreditam na música para fugir das drogas e do crime


Muito prazer, sejam bem-vindos ao Turano. Foi assim a recepção do diretor e coordenador do projeto “A criança que canta seus males espanta”, Edmar Souza, além de abrir as portas do espaço que conseguiu organizar nos fundos de sua casa no complexo do Turano no Rio Comprido foi muito educado e atencioso.
Edmar começou a nossa matéria muito emocionado e disse que uma das promessas ter feito quando saiu das drogas e do crime foi criar um projeto social onde nele as crianças pudessem desenvolver o talento para música, porém durante esse processo pôde perceber o dom das crianças para diferentes profissões, então resolveu investir naquilo que ele acredita e luta durante 5 anos para que dê certo.
Edmar Souza, tem 40 anos é um ex viciado e traficante de drogas, já matou uma pessoa em um assalto à banco em 1996, ficou preso por 3 anos e nesse período de detento aprendeu a trabalhar e sua família era beneficiada com um salário em troca dos serviços prestados na cadeia. Recebeu liberdade condicional e descobriu ao sair da prisão que a melhor maneira de livrar-se do “mundo negro” das drogas era trabalhar com jovens incentivando-os com projetos sociais e inserindo ao meio artístico ou não.
Assim como os projetos que deram certo como Afro Reggae e “Nós do morro” do Vidigal traz inspiração e faz com que cada dia ele possa lutar e aumentar a esperança dessas crianças no mercado de trabalho seja na música ou em outra profissão qualquer.
Edmar mostra-se muito emocionado diante das crianças com que fez questão de fazer essa matéria e diz: “Cada criança dessa aqui presente, representa um pouquinho da infância que não me permiti viver”.
- Ele para, olha pra mim, respira fundo e diz: “Vamos continuar”!
O sonho dele é aumentar o espaço que ainda é pequeno, ele tem 50 crianças inclusas, muitas delas permanecem no projeto, porém 10% voltam às ruas, umas morrem e outras são encontrada drogadas nas vielas da comunidade. O Diretor e coordenador resolve então aceitar o nosso pedido e nos leva para conhecer um pouco do complexo do Turano e por meio desse vai e vem encontramos um dos jovens que já participou do projeto de Edmar e o que vemos não é tão satisfatório, o nome dele é Carlos Augusto um adolescente de 15 anos, mais ou menos 1,56cm, ele está sem camisa, de bermuda preta meio surrada, uma pistola na cintura e um cigarro de maconha no canto da boca. Eles se cumprimentam e Carlos Augusto mais conhecido na comunidade como “menor”, olha para Edmar e meio envergonhado com a cabeça baixa diz: “E ae Tio Ed. Pô, tô devendo uma volta lá no galpão né ? Desculpa. Mais eu to trabalhando direto com os amigos, mais espera que eu passo por lá”.
Edmar, fica triste com o que vê e diz que “menor” é um adolescente muito revoltado, mas tem poder na voz, cantava na igreja da comunidade, investiu no menino e ele preferiu voltar pro mundo das drogas porque precisa sustentar sua mãe e mais dois irmãos.
Talvez esse seja o problema da maioria das crianças nas comunidades ou melhor, a desculpa mais fácil de usar para permanecer nessa vida errada, declara.
Edmar explica também que todos na comunidade o conhecem como Ed, por isso Carlos Augusto o chama de Tio Ed.
Seguimos mais um pouco por dentro da comunidade e pude perceber que existem faixas em algumas vielas de atrativo para que os jovens façam parte do projeto de Edmar e ele fica muito satisfeito com a procura dos pais pelo trabalho e pedem que seus filhos sigam um bom caminho e possam receber oportunidade de emprego.
O projeto “A Criança que canta seus males espanta” existe há 5 anos e só permanece em função da boa vontade de alguns moradores que acreditam no projeto e colaboram, uns são professores, umas senhoras bordam e ensinam as crianças a bordar.


O SOM DAS COMUNIDADES

A garotada do Turano fica mais satisfeita o dia que tem aula de dança e música. Normalmente é o que vemos nos bailes e festas são crianças dançando ao som do batidão do funk e cantando músicas feita pelos jovens, neste caso sem apologias.
Os jovens se manifestam através do funk que é onde encontram facilidade na letra e tentam transmitir através dela a sua vida o seu dia a dia.
Ao final do dia e dessa reportagem nos deparamos com um clima tenso na comunidade, perguntei a Edmar o que poderia estar acontecendo e ele me respondeu que seria o início de mais um dia de confronto e me aconselhou que deixasse a comunidade e meu companheiro como estava com a máquina digital na mão poderia trazer problemas.
Percebi que em seus olhos havia um ar de alívio por ter podido contar a sua história e ao mesmo tempo uma preocupação em tentar me ver longe dali a partir daquele momento, então peguei minhas folhas anotadas, meu celular puxei meu amigo pelo braço e seguimos em direção a rua, e numa ação totalmente inusitada e inesperada quando chegamos na rua fomos abordados e nos arrancaram a máquina, celulares e carteira e pediram que seguíssemos sem desespero e que ali não era lugar de fazer trabalhos jornalístico.
Foi então que me dei conta de que todo o meu trabalho tinha se perdido nas mãos daquela pessoa que mal pude ver o rosto, mas algo havia se salvado. As anotações, o bloco, e a experiência de ter vivido aquele dia, com aquelas crianças com aquele homem cheio de esperanças e bandidos que um dia foram crianças e não tiveram uma chance de mudança me levaram um material tão precioso como as fotos e meus documentos. Foi assim que terminei minha matéria, com a esperança de que um dia eu pudesse ver mudança nessa cidade, não só no Turano com a ajuda de Edmar Souza, mais em todas as outras comunidades que tem esperança como eu . FUI !!